Sempre gostei de bonsai, aquela arte japonesa de miniaturização de árvores. Como criança, pedia livros sobre o assunto, estudava e sonhava em algum dia fazer um exemplar. Mas nunca tive a coragem. E hoje nos meus quase 60 anos continuo não tendo.
Há mais de sete anos (no dia 27 de dezembro de 2013 para ser exato), numa incursão à mata para observar aves amazônicas (minha profissão, hobby, e maior prazer), desenterrei algumas plântulas jovens de Parkia pendula para levar para a casa. Não tinha ideia de como, mas imaginei tentar fazer bonsai de uma delas.
A espécie, conhecida na Mata Atlântica como visgueiro ou angelim-saia, aqui na Amazônia é mais chamada de arara-tucupi. É, na minha opinião (uma das se não), a árvore mais linda da Floresta Amazônica. Sua copa estende lateralmente formando quase uma mesa plana de folhas delicadas e recortadas acima das outras copas. Uma das grandonas mesmo da floresta. Como recriar isso em miniatura?
Essa mudinha de uns 50 cm, nascida logo de baixo da mãe, um monstro de 30 m, foi plantada em um vasinho e ficou na meia-sombra do meu jardim de casa. Nunca tive a coragem de fazer qualquer tipo de educação da árvore, muito menos podar qualquer coisa. Só deixei ela sofrer esse tempo todo dentro de um vaso muito pequeno, com uma terra bastante exausta provavelmente.
Ela simplesmente crescia lentamente, um espigão fino, meio torto devido às viradas para achar algum sol, sem a menor tendência de querer esgalhar, muito menos produzir aquela copa chata, espalhada, maravilhosa característica da espécie—só uma vara torta mesmo. Depois de alguns anos, enquanto ela se esticava lentamente, quando não aguentei mais olhar para a desproporcionalidade absurda do vasinho que estava (de plástico ainda), tomei a coragem de passar para um vaso maiorzinho, de concreto, mais pesado e ornamental. No ato, naturalmente rolou uma “poda” (mais como mutilação) do bololô de raízes.
E assim passaram-se mais anos, ela subindo e eu me sentindo cada vez mais incompetente e indeciso. Deveria ter colocado ela no chão há muito tempo, pensava. A natureza dela é subir até emergir do dossel e, só então, formar copa. Quase três metros de altura num vaso ridículo, não era nem uma coisa nem outra. E para piorar, agora mês passado em plena época de chuva, perdeu todas as folhas, e eu suspeitava que tivesse finalmente batido as botas. Mais uma perda da pandemia, do descuido, da inoperância e da incompetência. Triste.
Mas não. As chuvas diminuindo, o sol aparecendo, começou a se esticar o botãozinho na ponta alta da vareta. Aliviado, mesmo assim eu custei pra entender o que estava acontecendo. Ela não recuperou; pois nunca tinha passado mal. Ela trocou suas folhas, como uma Parkia adulta na mata faz. E quando começou a rebrotar, não foi só na ponta apical. Pela primeira vez, brotou em muitos lugares, claramente querendo fazer galhos. Aí sim, entendi que ela tinha decidido (talvez por ter alcançado uma altura no jardim que o sol a iluminava o suficiente) esgalhar de vez. Rapidinho puxei o vaso para um lugar ainda mais ensolarado, em pleno sol mesmo, para reforçar nela a felicidade da sua decisão.
Mario Cohn-Haft
Acariquara
30 de maio de 2021