segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Gritaria e confusão de madrugada

Parece a manchete do jornal vendido no semáforo, mas essa vez, como de praxe, vai ser só sobre as aves do Acariquara. No caso, a gritaria é das aves, mas a confusão pode ser a nossa pra entender quem tá gritando o que.

O coró-coró (Mesembrinibis cayennensis) anda pelo chão catando alimento, inclusive o caramujo africano.
(Foto: Anselmo d’Affonseca).

Por Mario Cohn-Haft

18 de dezembro de 2016

Por bem ou mal, parece que o gritador mor do amanhecer, o aracuã-pequeno (Ortalis motmot), já está bem conhecido e aceito na vizinhança. Virou até mascote do conjunto, eleito por maioria! Mas tem outra ave que vocaliza quase todo dia aqui, de forma parecida, que suspeito que tá passando batido por muitos moradores. É o coró-coró.

O coró-coró é uma ave de várzea que colonizou o nosso conjunto. Inicialmente aparecia só na beira do lago. Mas com a expansão do caramujo africano, ele começou a andar pelos quintais e áreas verdes comendo caramujos! Não sei quantos ele consegue comer, mas já ganhou o meu respeito pela tentativa.

Voando, o coró-coró grita seu nome e mostra que tem bico longo e curvo, mas quase não tem cauda.
(Foto: Anselmo d’Affonseca).

É uma ave pernuda, maior que uma galinha e quase preta, a não ser quando o sol bate e ilumina tons de verde brilhoso (mais sobre iridescência em aves em um post futuro). Mas como fica principalmente na sombra, parece escuro mesmo, com o bico comprido e curvo. Você nunca viu? Aposto que já escutou!


(Gravações: Luciano Naka e Phil Stouffer).

Sim, grita de madrugada, durante o dia e até à noite. E o som lembra o do aracuã. Então, como saber a diferença? Ambos chamam seu próprio nome. Um faz “araQUAM-araQUAM-araQUAM-araQUAM”, às vezes vários gritando de uma vez. Para lembrar o som e aparência do aracuã, clique aqui.

O coró-coró faz "coró-coró-coró-coró-coró-coró…” quando passa voando, e faz um ronco, longo e prolongado quando pousado numa árvore, esperando descer pro chão para procurar comida (clique aqui para ouvir).  Se você avistar o gritador, também é fácil distinguir: o aracuã tem rabo comprido e bico curto; o coró-coró tem bico comprido e rabo curto. Simples assim.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Escolinha de futebol estreia no Acariquara

A chuva bem que tentou, mas mesmo com atraso a primeira aula da Escolinha de Futebol aconteceu nesse sábado (03/dez) no campinho da Praça do Conjunto Acariquara, vulgo Carecão. 


Por Ricardo Pedroso

Pais investiram no talento dos filhos, roupa e tênis novos, protetor solar e água. Filhos nitidamente estranhando a situação, alguns ainda não tinham tido a oportunidade do contato com uma bola de futebol. Outros entusiasmados e alguns tímidos, dispostos apenas há observar e brincar. Professor Luiz nem dormiu direito, antes da chuva já estava ansioso no Carecão fazendo os últimos ajustes.


Com a trégua da chuva os pais foram chegando, alguns sem filhos, só pra ver a brincadeira e comprar Alface. Agradecimento especial a esses que com apoio moral e financeiro estão viabilizando essa iniciativa. Depois do aquecimento um treinamento de toque, cabeçadas e chutes a gol. Acabou, é claro, com uma partida onde até pai entrou na disputa, que terminou nos pênaltis e todos saíram vencedores.


Para comemorar o dia da estreia moradores Elisangela e Ricardo (Guariúbas) patrocinaram um lanchinho. Encerrado com mais brincadeira da criançada na Praça e bate papo dos pais, já quase 10:30h, tava bom e ninguém queria ir embora. 


Essa atividade será rotineira. Todo sábado iniciando às 8:00. Procurem chegar no horário para a criançada aproveitar o sol ameno da manhã. Todas as crianças, meninos e meninas, de todas as idades são bem vindas, junto com seus pais e acompanhantes é claro. 


Esse é um momento de interação pais e filhos, no sentido amplo da palavra. Pais, que são mães, irmãos, tios e amigos. O carinho oferecido à criança é retribuído por ela no dia a dia. Passem mais tempo como elas, aproveitem esse momento nos sábados pela manhã. 

Obrigado a todos que por lá apareceram. Palpites e contribuições são sempre bem vindos.

Mais fotos da inauguração da Escolinha de Futebol no Carecão:







quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Pescador do Asfalto?

Não é todo dia que ocorre um evento ornitológico memorável na caminhada matinal com os cachorros. Mas acontece com uma regularidade suficiente que me deixa sempre atento, sempre na expectativa de ver algo diferente. Ontem eu estava mais “leso” que normal, devido ao calor que nestes dias já amanhece fazendo. Sorte é que os cachorros também estavam um pouco desatentos e nem perceberam o que vi.  Aproximando ao final da Rua das Guariúbas, de repente notei a forma de um animal, grandinho até, afastando da gente caladinho em direção à mata. Grande demais para ser uma cutia, até demais para ser coro-coró. Era um socó!

O socó-boi adulto tem uma coloração elegante e ao mesmo tempo adaptada para ambientes de beira de lago. Chama-se “boi” por causa da vocalização que faz, mais comumente à noite, que lembra o mugido de boi (clique aqui para ouvir).

Por Mario Cohn-Haft

01 dezembro 2016

O socó-boi (Tigrisoma lineatum), da família das garças, é um bicho de florestas e beiras de lago, mas sempre associado a corpos d’água. Isso porque vive de comer peixes e às vezes sapos e outros bichos que vivem dentro ou próximo à água. O que tava fazendo andando pela Guariúbas? Suspeito que tava se fazendo essa mesma pergunta quando viu o quarteto predominantemente canino aproximando. Era um sub-adulto (pela plumagem dá para saber, compare as fotos) e talvez ainda pouco experiente em sobrevivência. Ou talvez já se adaptou a uma realidade semi-urbana e estava caçando ratos perto da lixeira de um vizinho ou algum bicho atraído por frutos que tinham caído no chão. Não sei. Enquanto eu olhava, ele só afastava lentamente, batendo seu rabo curto com nervosismo e olhando por cima do ombro pra gente, com aquele bicão de defesa. Mas não voou e nem entrou na mata. Deixamos ele em paz.

O jovem é todo pintado e por isso muitas vezes é chamado de “socó-onça” e tratado como se fosse uma outra espécie. O fato da vocalização, apesar de igual à do adulto, lembrar também o esturro da onça não ajuda a desmentir o nome ou a reconhecer que é tudo uma espécie só. Leva vários anos para trocar da plumagem juvenil para a adulta. Na “adolescência”, digamos, a plumagem passa por um padrão intermédiario entre os dois vestimentos ilustrados, misturando pintas com cores lisas. O pescador da Guariúbas era justamente um desses quase-adultos.

fotos: Anselmo d’Affonseca
gravação:  Luciano Naka