quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Pescador do Asfalto?

Não é todo dia que ocorre um evento ornitológico memorável na caminhada matinal com os cachorros. Mas acontece com uma regularidade suficiente que me deixa sempre atento, sempre na expectativa de ver algo diferente. Ontem eu estava mais “leso” que normal, devido ao calor que nestes dias já amanhece fazendo. Sorte é que os cachorros também estavam um pouco desatentos e nem perceberam o que vi.  Aproximando ao final da Rua das Guariúbas, de repente notei a forma de um animal, grandinho até, afastando da gente caladinho em direção à mata. Grande demais para ser uma cutia, até demais para ser coro-coró. Era um socó!

O socó-boi adulto tem uma coloração elegante e ao mesmo tempo adaptada para ambientes de beira de lago. Chama-se “boi” por causa da vocalização que faz, mais comumente à noite, que lembra o mugido de boi (clique aqui para ouvir).

Por Mario Cohn-Haft

01 dezembro 2016

O socó-boi (Tigrisoma lineatum), da família das garças, é um bicho de florestas e beiras de lago, mas sempre associado a corpos d’água. Isso porque vive de comer peixes e às vezes sapos e outros bichos que vivem dentro ou próximo à água. O que tava fazendo andando pela Guariúbas? Suspeito que tava se fazendo essa mesma pergunta quando viu o quarteto predominantemente canino aproximando. Era um sub-adulto (pela plumagem dá para saber, compare as fotos) e talvez ainda pouco experiente em sobrevivência. Ou talvez já se adaptou a uma realidade semi-urbana e estava caçando ratos perto da lixeira de um vizinho ou algum bicho atraído por frutos que tinham caído no chão. Não sei. Enquanto eu olhava, ele só afastava lentamente, batendo seu rabo curto com nervosismo e olhando por cima do ombro pra gente, com aquele bicão de defesa. Mas não voou e nem entrou na mata. Deixamos ele em paz.

O jovem é todo pintado e por isso muitas vezes é chamado de “socó-onça” e tratado como se fosse uma outra espécie. O fato da vocalização, apesar de igual à do adulto, lembrar também o esturro da onça não ajuda a desmentir o nome ou a reconhecer que é tudo uma espécie só. Leva vários anos para trocar da plumagem juvenil para a adulta. Na “adolescência”, digamos, a plumagem passa por um padrão intermédiario entre os dois vestimentos ilustrados, misturando pintas com cores lisas. O pescador da Guariúbas era justamente um desses quase-adultos.

fotos: Anselmo d’Affonseca
gravação:  Luciano Naka

2 comentários:

Gunther disse...

Quantas espécies juntas!!

Socó, boi, onça, cães, humanos e um ainda por cima um saci narrando tudo!!
Não é em qquer lugar que encontramos essa fauna!!

Sensacional!!

Saci disse...

Ahaha... muito bom Gunther! O Acariquara realmente merece todo cuidado e dedicação dos seus moradores, quem sabe ajudando a floresta e seus animais a colonizarem o entorno...