Eu jurei pra mim mesmo que não ia usar este blog para entrar na minúcia de identificação de espécies muito parecidas de aves — coisa para um público mais especializado em observação de pássaros. Mas quando pousa e grita na sua frente, dentro do conjunto, a terceira e maior e mais difícil espécie de arara que tem na região, tem que contar pros vizinhos, não é?
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A arara-vermelha (Ara chloropterus) tem uma mancha verde na asa (no lugar da amarela da araracanga), linhas escuras na cara, e um tom de vermelho mais escuro, além de outras diferenças mais sutis. |
Por Mario Cohn-Haft
09 de janeiro de 2017
O título dessa postagem é um trocadilho de “bird-nerd” e vem de uma frase em inglês, “the real McCoy”, que significa “a coisa verdadeira”. Não sei direito a origem, mas poderia ser usado assim, por exemplo: “Essa bijuteria é feita de lata e vidro, mas esse colar de ouro é the real McCoy”. Agora, inglês para arara é “macaw”, então não resisti comentar que, agora sim, recebemos visita da arara mais especial que temos: a arara-vermelha “verdadeira” (nome científico, Ara chloropterus).
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Habita matas intactas de terra firme e muito raramente aparece na cidade ou em lugares com pertubação humana. |
Você agora tá mais confuso que nunca, depois de ler tanto inglês, ouvindo que a arara vermelha que vê esses anos todos não é a verdadeira! Como assim? É que a nossa arara vermelha da cidade é, na nomenclatura oficial ornitológica, a araracanga (nome científico, Ara macao). Ela difere da outra em vários detalhes. A mais notável é que ela tem uma mancha amarela na asa, que separa a cor vermelha do corpo do azul da ponta da asa. Na vermelha verdadeira essa mancha é verde e não se destaca tanto, formando um degradê de cores na asa. E têm outras diferenças mais sutis: a verdadeira é maior, de um tom de vermelho mais escuro (tipo sangue), a cara com linhas escuras mais visíveis, e a cauda mais grossa.
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A araracanga (Ara macao) habita matas ribeirinhas e se adaptou às áreas verdes mais extensas da cidade. Se destaca pela mancha amarela na asa e pelo tom de vermelho ligeiramente mais alaranjado. |
Não duvide. Apesar das semelhanças, são espécies diferentes mesmo. Seus gritos são muito parecidos (e eu nem sempre arrisco dizer quem é quem pelo som), mas seus hábitos e distribuições divergem. A araracanga na região amazônica prefere florestas ribeirinhas. Como a maioria das aves adaptadas à cidade de Manaus, é basicamente uma espécie de várzea. Já a arara-vermelha se limita mais às matas intocadas de terra firme, longe dos centros urbanos.
Hoje me surpreendi a topar com uma gritando no topo de uma árvore na esquina da Cedroramas com a Humboldt. A moradora Dayse já tinha me falado de ter recebido umas visitas dessa espécie numa fruteira dela no ano passado. Será que entrou nesse frenesi de papagaios que estamos vivendo? Sorte a nossa!
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